Muitos métodos e técnicas de artes antigas vem sendo resgatados para serem usados em criações contemporâneas. Isso acontece porque essas artes e técnicas carregam uma grande riqueza em detalhes visuais, culturais e criativos. A maioria das artes antigas contam com processos manuais, demorados e complexos, que possuem possuem valor histórico por estarem enraizadas na história de uma época, de um local, de um povo. O conhecimento de história, do que foi, do que é, e do que está por vir, são referências muito importantes para o design. O estudo e a junção do presente, passado e futuro fazem o processo criativo ter maior autoridade e destaque no desenvolvimento de algo novo. Hoje em dia muito se fala de apropriação cultural, que trata de se apropriar de elementos culturais de um determinado povo por um outro grupo distinto. Mas essa não é a abordagem e nem o foco aqui. Falaremos de uma rica e linda arte nigeriana resgatada por uma marca africana para produzir acessórios contemporâneos, com o intuito de preservar essa herança artesanal de seu povo. Aproveitamos para mostrar como é possível inovar criativamente com técnicas antigas e quase desconhecidas.
Aso Oke é um tecido de lã, do século X d.c, feito a mão e em teares de pedal pelo povo Yoruba, da Nigéria Ocidental. Esse é um tecido tradicional para ser vestido em ocasiões especiais, usado para confeccionar as roupas masculinas chamadas Agbada e as femininas chamadas Iro, além de chapéus e chales. O Aso Oke é da cultura iorubá, e apesar de tentativas de modernização a verdadeira essência está no trabalho minucioso e manual ao tramar as fibras e criar padrões vívidos e coloridos, típicos desse tecido. A arte Aso Oke carrega influências coloniais, políticas, econômicas e demográficas. É de extrema importância ter cuidado ao trazê-la para uma releitura contemporânea, para que não se perca a identidade. Tradicionalmente os fios de Aso Oke são de algodão e seda produzidos por locais, tingidos com corantes naturais, a incluir o índigo. A técnica de fabricação se concentra a maior parte em um padrão de dobra, as listras são feitas quando os fios da trama passam por um conjunto de fios no tear horizontal formando um brocado. Tiras com 10 a 20 cm de largura são tecidas e então costuradas para compor o tecido inteiro. Desde as matérias-primas compatíveis com o local onde o tecido é feito, até o consumo final do Aso Oke, faz dele um processo e material sustentáveis. Atualmente “ser sustentável” é algo que o mundo moderno tanto precisa e procura. Apesar das tecnologias que hoje auxiliam esse caminho, a resposta também pode ser encontrada nos métodos e técnicas que os povos antigos utilizavam. O vídeo abaixo mostra todas as etapas da técnica de Aso Oke:
Como a maioria das artes tradicionais e manuais ao redor mundo, há a preocupação do Aso Oke ser extinto, uma vez que as gerações mais jovens não se interessam, e as tendências e estilos mudam, enquanto uma variedade enorme de tecidos surgem através das máquinas. O Aso Oke não é apenas um tecido e técnica antigos, e sim o retrato de um povo e seus costumes. Sendo assim a marca nigeriana Ethnik teve a ideia de tonar mais atraente sua cultura do Aso Oke para os jovens, através da moda atual, com acessórios, bolsas, malas, tênis que despertam o desejo de consumo, com design super moderno e ao mesmo tempo com uma fabricação que conta com o antigo método da tecelagem do seu povo Yoruba, além de gerar novos empregos a comunidade local. Essa reconexão com o passado através da moda contemporânea faz com que muitas pessoas queiram se identificar com o lugar de onde são, além de reinventar a cultura para que ela não morra.
Há muita beleza artesanal mundo afora para ser descoberta, algumas podem estar distantes porém conectadas de alguma forma com a sua história. Estudos e pesquisas sobre culturas e povos antigos são riquíssimas e trazem muitas referências em processos, materiais, formas, composição de cores e técnicas que foram usados na trajetória para chegarmos a atualidade. Muitos desses elementos podem colaborar efetivamente para o surgimento de novos métodos, técnicas, e conceitos criativos, levando como base os fundamentos tradicionais antigos, e até mesmo serem combinados com tecnologias inteligentes.
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