Resíduos estão sendo transformados em moda como alternativa para menor impacto ambiental e uma economia circular. Nesse processo empresas brasileiras investem em pesquisas para reutilizar aquilo que é descartado como lixo na natureza. Um exemplo dessa realidade é o biocouro de pirarucu, material que tem origem em um dos maiores peixes amazônicos e que surge um couro texturizado, macio e resistente. O biocouro de pirarucu é tido como um tecido exótico e alternativa sustentável para calçados, bolsas, acessórios, roupas e até mesmo mobiliário. A produção desse material orgânico ocorre a partir do descarte da pele do peixe pela indústria alimentícia. Esse descarte, que originalmente estaria gerando apenas poluição biológica, é reaproveitado de forma inteligente criando um novo ciclo virtuoso, diminuindo o descarte de resíduos na natureza e gerando trabalho para as comunidades ribeirinhas locais. Além disso, viabiliza produtos melhores e engajados em um processo sustentável.
A Osklen é pioneira em utilizar a pele do pirarucu graças a Oskar Metsavaht, fundador e diretor criativo da marca, que desde a década de 90 lança fundamentos de desenvolvimento sustentável e implementa estratégias socioambientais na moda. Um dos materiais sustentáveis da Osklen é o couro de pirarucu, produzido em parceria com o Instituto-e, utilizando um processo eco-amigável com corantes naturais e sem o uso de sais de cromo (material tóxico e poluente). O couro de pirarucu está presente na coleção ASAP (As Sustainable As Possible) – “Tão sustentável quanto Possível”.
Apesar da origem animal, o couro de pirarucu é um material sustentável derivado exclusivamente da pele do peixe descartada e transformada em um produto orgânico de luxo. Pela primeira vez um couro 100% de peixe foi premiado como o melhor couro exótico na feira internacional APLF 2012 Hong Kong, e também levou o prêmio Leather Fashion Smart Creation Prize 2017 no Première Vision em Paris. De origem brasileira, o material premiado é da Nova Kaeru, que transforma o couro de peixe em um material de luxo eco amigável, livre de metais pesados além de contar com o controle do IBAMA para a ajudar a sustentar e desenvolver comunidades que pescam em fazendas regulamentadas. A Nova Kaeru desenvolve tecidos biológicos orgânicos com métodos de trabalho únicos e materiais naturais vinculados a tecnologia de ponta responsável e consciente, para inspirar projetos criativos em todo o mundo.
Marcas como Prada, Nike, Dior e Alexandre Wang estão entre os grandes nomes que usam a pele de peixe em seus produtos de moda, assim como marcas brasileiras, menores e designers locais, que impulsionam a demanda do material e espalham o DNA brasileiro pelo design sustentável.
A busca pela sustentabilidade no mecanismo da moda atual ajuda a solucionar problemas da cadeia produtiva, de distribuição e consumo para menor impacto ambiental. Ser sustentável requer estratégias e práticas socioambientais. O conceito de economia circular nasceu para compor esse novo tempo que está sendo repensado, reformulado e projetado. Essa atenção dada a um novo jeito de produzir e consumir está transformando materiais descartados em potenciais novas matérias-primas para indústria da moda, promovendo o reuso, o reaproveitamento e impedindo que acabem no meio ambiente.